Skip to main content

Posts

Showing posts from 2017

Mahgrebi

I'm walking alone in the desert I've walked now for miles  In silence The grains of sand blown by  the wind  Leave little cuts on my burnt face I am alone  I cover my head with a dark magenta shawl  the color of wine or blood  I walk  My feet sink in the sand My legs feel weak and wobbly  The way they do after a tough swimming practice  I'm a swimmer  But there's no water here I cover my face with the shawl  Leaving only my eyes free  Being free, they look around  Towards a vastness of nothing   I keep walking  I am now the mahgrebi everyone says I could be I search  There's something I need I know I need it  A drink A drug  A magic potion It's why I keep walking  I gotta have it  I couldn't find it where I came from So I wonder in the desert  but I find no one  I see a tent in the far distance  to the north of me I recover some strength  I march on the tent's direction b

Merit

In a world of meritocracy, you receive an inheritance. Not a big fortune, but some money to help pay your debts, help a relative who fell ill. You are grateful, but you did not merit this. You never did anything for it. You think about how many will never be covered by a rain of golden coins fallen from the sky, while some swim in pools of money, modern times uncle Scrooges destilating hatred towards any step directed to the sharing of wealth in the world and holding on to the belief that they earned what they have. It is such the world.  Your daughter helped a friend cheat at a school test and got caught.  She was punished with a big F on her exam. She cries and explains to you she was only trying to help a desperate friend. Deep inside you understand her feelings,  but you agree she has to learn that helping a dishonest deed is the same as doing it. Some other parents heard of the situation. They talk to you and seem shocked by the school's decision to punish the accomp

Mulher Trófeu

Gripada, entupida, o nariz ressecado ardia ao tentar respirar, ferido.  Lenço de papel por todo lado. Aquelas bolinhas amassadas. Tinha passado o dia de pijama, um robe de flanela por cima. Arrastava o cinto do robe aberto pelo chão. O celular já tinha tocado umas três vezes. Não quis atender. Primeiro, porque não tinha voz. Depois, porque não tinha o que dizer. E era ele, ela sabia. E ela tinha certeza que ia ouvir um sermão.  Lembrava vagamente da besteira que tinha feito. Não queria saber os detalhes. Ele sabia que ela não queria ter ido. Festa de rico chato. Uma pista de dança enorme e uns gatos pingados dançando os mesmos movimentos ensaiados, com muito cuidado para não assanhar a chapinha, nem derreter o gel. "Gente errada com a conta corrente certa!" A turma era péssima, mas a bebida era farta. "Acho que nem eles se aguentam se não encherem a cara." Provou um drink azul. Rafael conversava com um cara de sorriso tão simétrico que era impossível que fosse real.

Maio, 2017 - Fim de tarde em Brasília

Um burburinho de barzinho no fim de tarde. Tudo parece igual. Amigos se encontram no Café, grupos ocupam as mesas maiores. Adoram sentar-se ao lado de quem lê um livro, de quem está só. Desconfiam dessa solidão e afrontam-na.    Alguém solta uma gargalhada alta.    Tudo normal, tudo como antes. A música contorna as conversas e risadas: “Cai o rei de espadas, cai o rei de ouro, cai o rei de paus, cai não fica nada…” Nada é, na verdade, como antes, como o dia de ontem. Hoje, o ar que se respira é grosso, agressivo e sufocante. Nada, abaixo da epiderme do mundo está igual. A brisa leve não engana. Refresca o corpo, mas a alma treme. Agora, toca Roda-Viva. “Como pode? Ontem mesmo era ano 2000.” Quando o golpe se deu e as ideias estapafúrdias começaram a surgir com projetos que tinham o nome de músicas da minha infância, regravações dos anos 80 começaram a entupir os programas de rádio. Hoje, Elis e Chico ressurgem nesse Café, fazendo o sentido que já não faziam há tantos anos. Ape

Olhos de rio

Não sabia o que fazer,  não sabia o que esperar Contava as estrelas,  até o barco chegar,  deixava o rio passar Sozinho, à margem Ohos de rio que segue  pro mar E leva tudo,  seguindo sempre sem medo,  Olhos de rio, Correnteza que traga  tudo, sempre sempre e repetidas vezes, tudo e repetidas vezes Caminha  mais,  um pouco mais,  um pouco além Segue a margem Na segunda curva,  olha pra trás  Se vê, longe,  pequeno Tanto tempo, tanta dúvida, tanto caminhar,  tanto,   sem ir  a nenhum lugar   Vê  os sonhos,  Deixou escapar Segue  adiante,  olhos de rio transbordantes, misturando outras águas Caminha,  muda, transmuta       Olhos de rio, finalmente mar

Plano pra ficar malhado

Ele tinha um plano Estava muito animado Ia ficar bombado Tudo já determinado Um roteiro organizado  Para ser super sarado Chegou na academia O plano fora cancelado Ele então ficou bolado Mas quando voltou pra casa  Viu os halteres quebrados Os suplementos trancados  Com dois cadeados pado Como ficou chateado  A mãe sorria na porta E ele a olhou magoado  Não queria o filho malhado  fortão, todo marombado  Suspirou, conformado  Seu plano desmantelado Ela, tomou-o pela mão Abrindo lá na cozinha uma panela de barreado Cozinheira de mão cheia Dessas de forno e fogão Ele abriu um sorrisão Repetiu a farinha e ficou mais animado Esqueceu aquele plano de ficar todo malhado  A comida da mamãe era assunto complicado  pra deixar assim de lado

Recuerdos, cambios y rumbos

Una amiga me dijo que en los años setenta, hubo una invasión de ratones en Brasilia y que ellos salían por el desague del bidé y entraban en los apartamientos de Asa Norte. Ella me pregunta si no me acuerdo. No me acuerdo. “En serio? No te acuerdas?” No me acuerdo. No me acuerdo de la invasión, no me acuerdo de comentarios, noticias. Respondo que era muy pequeña, pero ella es más joven que yo. Rio sin gracia, sin mostrar los dientes: “Realmente no me acuerdo!” De lo que me acuerdo es siempre haber tenido miedo de ratones, más que de cucarachas. Y de siempre soñar con ellos en tiempos de angustia, preocupación. Una vez vi un video de un asado en la casa de mis padres en que intento alertar a mi madre del paso de un ratón y ella me ignora. Me pareció que no quería llamar la atención de los invitados para la presencia del animal asqueroso que corría en la orilla de la cerca. No quería interrumpir su canto y su soleado día de domingo y, por eso, ignoró completamente lo que dijo la niñ

On Poets

Poets cultivate carnivorous plants I wonder why they do  Perhaps it is because they don't mind having their finger bitten once in a while Or maybe they enjoy seeing something eating something else Poets are funny sad creatures  They linger on long lost dreams  They soar above with their light plumb wings  And tear your skin off with their sharp strong  teeth  Poets are sweet dangerous entities They fall in love with you  The details of you  And the weirdness of you They see you Your contours, your shadows And they make you eternal Poets take mental notes of your moves They see when a drop of sauce stains your shirt They watch when your tongue moisturizes your lips  When you statter, when you cry, when you tell a lie They hover above your house And stare through the bedroom window while you sleep Poets cover you with the thick blanket of the night  Poets sing you lullabies They deeply care  And deeply don't give a damn 

Sail away on paper boats

Say no to crocodiles and bad dreams. Say no to oily French fries and  people who tell not what they mean.  Say no to liposuction and a 20 day recovery. Say no to shopping malls and closed doors. Say no to invisible elephants, they occupy the same space. Say no to plants that insist in dying and friends that insist in disappearing.  Say no to conquistadors.  They extinguished civilizations.  Say no to straight lines and squared rooms.  Say no to puppeteers and clowns that scare your children.  Say no to unfair deals and to sucking blood vampires Say yes to walks in the park and  a day out in the sun.  And to letters making up words,  forming up sentences, c omposing light.  Say yes to blooming fields  and pictures of happy families. Say yes to the crying child behind the happy picture  and buy her a pink baloon.  Say yes to what rhymes and what sounds soft and sweet to your ears,  things like  "sudden serendipity"   or  "silvery threads of thoughts" and &qu

Lembranças, mudanças e rumos

Uma amiga me diz que nos anos setenta, houve uma infestação de ratos em Brasília e que eles saiam pelo ralo do bidê  e entravam nos apartamentos da Asa Norte. Ela pergunta se eu não me lembro. Não lembro. "Mesmo? Não lembra?" Não lembro. Não lembro da infestação, não lembro de comentários, notícias. Respondo que era muito pequena, mas ela é mais nova que eu. Sorrio sem graça, sem mostrar os dentes: "É, não lembro." O que lembro é de sempre ter tido medo de ratos, mais do que de baratas. E de sempre sonhar com eles em tempos de angústia, preocupação. Uma vez vi um video de um churrasco na casa dos meus país em que tento alertar minha mãe da passagem de um rato e ela me ignora. De certo não queria chamar a atenção dos convidados para a presença do animal asqueroso que corria no canto da cerca. Não queria interromper sua cantoria e seu ensolarado dia de domingo e, por isso, ignorou completamente a fala da criança inconveniente. Uma amiga me contou também  que já

O comprimido

Uma pílula, um comprimido. Tomar um por dia, me disse o médico. Nunca me lembro de tomar essa porra! Um remédio desses que é ruim com ele, pior sem ele. Tem um outro que vai junto, menorzinho. Esse é um troço comprido que, pode parecer ridículo, mas se tomar com muita água, boia na boca e não desce, depois fica aquele gosto amargo na língua. Se tomar com pouca água, entala. Quase morro da última vez. Juro que fiquei roxa. Moro só e achei que ia ser encontrada pelo porteiro daí a uma semana, quando sentissem meu cheiro de podre no corredor. Os vizinhos reclamariam e viriam com o porteiro arrombar a porta. Lá estaria eu, morta, roxa como uma beringela, as baratas passeando pelo meu cadáver. Dias depois ainda seria o comentário do prédio: "Mas, morreu de quê?" "Ah, menina, você não vai acreditar! Morreu entalada com um comprimido!" 

A pocket full of nos

No No money  No way Exhaustion  and Insomnia And  No   No scape  Salty sweat drops  On your lips  And No No bath No water   The lake is drying up  We will walk on it  No No hope One day  One foot after the other  We will cross it  And  No  No relief No dreams  To be dreamt No more

Ex

E do nada apareceu aquele ex Me chamando de meu bem Veja que insensatez Me tratou como um cão maltês Ou pior, um pequenez  Fiquei numa viuvez  Foi grande o estrago que fez Meu bem!  Ora, meu bem!  Pensa que esqueci o que me fez  Pra ficar bem foi pra lá de mês Vai acabar ouvindo desaforos  em bom português Ah, se ao menos tivesse sido uma  só  vez Mas foi uma, foi duas, foi três Veio de novo, a branca tez e aquela cara de burguês Chegou e me chamou: D e meu bem.  Me olhou como antes, com cara de amante francês Titubeei, mas segurei Juntei meu cearencês e disse:  Olhe, seu filho d'uma égua, é muita desfaçatez!  Tome o rumo da sua venta  e não me apareça,  nunca mais,  outra  vez. 

Recém casados

Recém-casados, um apartamento de dois quartos para um casal. Parecia muito, a princípio, um privilégio. Não tinham filhos. Tem gente que mora em um quarto e sala com oito meninos. Dormem uns por cima dos outros, amontoados, redes por cima de redes. Eles tinham um escritório. Olha o luxo! E uma cozinha americana! O problema é que para onde ela se virava, lá estava ele, um sorriso nos lábios e aquele olhar tranquilo. E tudo que ela pensava era: "Meu Deus, agora para onde eu me virar vou dar de cara com ele? Ganhei essa sombra! Aff!" Disfarçava, sorria de volta, um sorriso daqueles que não mostram os dentes, só empurram as bochechas para os lados. Até que acordou um dia e foi escovar os dentes, a pasta de dentes apertada no meio.  Deu um grito. Ele correu para a porta solícito. Era demais! O rosto queimando, berrou: "Olha, assim não dá! Eu preciso do meu espaço!"  Saiu marchando, bateu a porta, andou uns 20 minutos em volta do quarteirão. Quando a respiração voltava

Once

I once dated a werewolf            Eyes like flashlights           showing the path I once walked the path I found lost words I found lost pain I once threw my car from a bridge In the highest speed When street lights seemed like flying arrows and the water from the lake was a dark brick wall I once threw stones at the windows of the moon and sailed a boat of stardust in a lightless night I crossed the borders in disguise and spoke a million tongues I now decided to forget I once danced with a king on top of the highest tower No one ever saw the king No one, but me I once was a speck of dust I once was a grain of sand I was part of a hurricane And I landed on another land I once dreamt new dreams and wrote them on napkins I once wrote poems on spaceships and lies on  pages of ancient books no one ever read I once took a look I once took a pick I once took a bite It did not do the trick   

Overwhelmed?

Would you help me if I stopped breathing? You don't care if I live or die, do you? Bring me water, Read me a story! Hire someone to help. Do you think she will die on the operating table? Have you thought of what to do? What will you say to the kids? Would you stay a little longer? Would you hold my hand? Who is the teacher? What are the strategies? Can I get a discount? Did you answer the messages? Did you pay the bills? Did you lock the doors, roll up the windows of the car parked outside? Did you think about that project? And 'bout the prospect of never really being what you intended to be? Did you think about that? Do you worry that more friends of yours may die? Are you afraid you won't be there? Do you text your friends in the morning to secretly check if they are alive? Are you afraid you won't hear her if she actually stops breathing in the middle of the night? Have you dried out? Will you have dementia? Will you know your name? Did you live a happy life? Why a

Meu conto de Natal

Horas no shopping na semana de Natal, detesto ir ao shopping na semana de Natal. Com um monte de sacolas, sentei no café enquanto meu marido foi enfrentar a imensa fila de cupons de troca de notas fiscais, mas antes,  me dei conta que não tinha nada para ler na bolsa. Sempre tenho, um livro, o Kindle, ou os dois. Resolvi comprar um livro, de  contos, porque não daria tempo de ler tanta coisa assim. Entrei na livraria, uma olhada rápida em algumas coletâneas e comprei. Simples assim, um livro novo porque não queria sentar em um café e suportar vinte minutos de tédio misturado com o cansaço da tarefa ingrata das compras junto aos que, eu e minha irmã, sempre chamávamos "os desesperados", essas pessoas que deixam as compras de Natal para a última hora.  Sentei-me no Café, as sacolas em outra cadeira, pedi um chocolate quente daqueles que parecem um danete de tão grosso e um copo de água da casa, que a garçonete trouxe com a má vontade costumeira, comum a todos seus col

Conselho

Sê caos Sê dúvida Sê angústia Sê confusão Mas  Sê amor Sê maior Sê inteira Sê verdadeira

Restos de um dia

Calor o dia inteiro, sol de rachar mamona, amigos, piscina, cerveja. muito protetor solar nas crianças, talvez não o suficiente. Não parece haver suficiente protetor em um dia assim. Em mim, nada. Esqueci. Agora, as crianças ressacadas se arrumam para dormir. Hoje, uma espera a fada do dente, derruba o leite na mesa e enrola para comer.  Vou tomar um banho, o corpo dolorido do dia, de ontem, porque hoje foi só sentar, ouvir, falar, beber, comer uma tonelada, enquanto ria do anedotário dos amigos e me preocupava com crianças que querem WhatsApp e com histórias de adultos se passando por crianças para atacar crianças pelo WhatsApp. Agora é o cheiro do dia de sol no corpo, o odor acre de suor velho.  Espero para tomar banho, crianças cheirando a lavanda enrolam para escovar os dentes e dormir, eu finjo não ver e vou tomar banho. As costas ardem acima da gola canoa do vestido leve, que,  mesmo leve, empapou de suor às três da tarde do horário de verão de Brasília. Sol mais baixo, q