Skip to main content

Janelas




Por que gosto de janelas? Gosto de como elas nos permitem observar o de fora e o de dentro. Gosto de que sejam esse limiar entre o interno e o externo. Que possibilitem, de certo modo, que estejamos ao mesmo tempo em dois lugares. É o paraíso de uma alma tradutora, um lugar para estar em um segundo, aqui, em outro, ali.

Como são também importantes, as janelas, para aqueles impossibilitados de partir, para os enfermos, para aqueles a que sobram pouca esperança. As janelas permitem a entrada do Sol. Permitem manter alguma fé na vida que se contempla do outro lado, na vida que segue. 

São também, as janelas, um lugar de travessia, mas não um lugar oficial como uma porta. Uma janela te leva a outro lugar, mas é preciso uma certa transgressão, uma certa ousadia, para se sair por uma janela. Há que pouco importar-se com o que pensam os outros para atravessar pela janela.

Realmente, gosto de janelas! Gosto que, quando fechadas, ao caminhar pela rua, podemos imaginar o que se passa lá dentro, por detrás delas. Podemos adivinhar quem ali vive, pelos detalhes que elas permitem escapar, a cor de seus umbrais, um vaso de flores, o estilo da cortina, uma fresta insistente que mostra um reflexo no espelho. Podemos adivinhar tudo errado, é claro! Mas quem se importa?  Podemos adivinhar mesmo assim!

É possível apoiar-se nas janelas, debruçar-se e contemplar o mundo, este e outro.  A janela é o fino limite entre o eu e o outro, entre o meu e o do outro. Abrir a janela é um gesto diário, banal, mas com ele ilumina-se o dia. Illuminamo-nos também e, iluminados, podemos ver melhor a nós e aos outros, podemos reconhecer os limites de nossa luz e sombra. Podemos alcançar o claro e o escuro que há além. Por isso gosto de janelas! 

Comments

Popular posts from this blog

The kind of person who lights candles

  I am the kind of person who lights candles. This is now, not then. it is a recently acquired habit, one that has done me well. I light up candles every day. In the beginning of each class I set up an intention, I focus and I light the candle. I ask myself to be the light, to be the container, not the conduit. I am now the kind of person Who walks barefoot on the grass of my backyard and lets herself shower in the improbable rain of Brasilia in May.  The four elements rest now on my desk making my therapist smile when told about them, making her proud of myself and my journey. I am the kind of person that feels the connection with the elements, and nature and the universe, so new. I am again a newborn being. And it is not the first time, I have once died and it’s no secret. This time, however, I did not have to die. I had only to shed the old skin, the one who served me no more. I am still the kind of person who looks in the mirror and who wonders who this new being is. This new self

No espelho

  Olhei hoje para o espelho e me vi mais serena, me enxerguei com mais leveza. Não que esteja de fato mais leve, eu acho. Ou será que estou? Tenho ainda infinitas incertezas e dúvidas aos milhares, mas a imagem que me olhou de volta do espelho, não me olha com tristeza, dor pânico.     A imagem que vejo nesse espelho é de     calma, no olhar certa paz, talvez de se entender humana, imperfeita e aceitar essa condição.     Aqui, deste lado que estou, me observando no espelho, sinto ainda o coração encolher como se uma mão o quisesse esmagar. Encolhe-se para sobreviver e expande-se em seguida. Ao encolher-se, a respiração dá uma pausa e uma bolha de cristal sobe em refluxo, pausando ali no meio da goela. Assim que pode, o coração retorna a seu pulsar, seu ir e vir. Permanecem ali as dúvidas, as exigências, as demandas, mas também os desejos de só ser, irresponsavelmente ser e atender a cada quimera. Porque a vida é curta! A vida é sopro!    E o outro? Os outros? Todos os outros?  É precis

Sobre os artistas - Para Bruno Sandes

  Créditos da imagem: Jacobs School of Music Marketing and Publicity