Skip to main content

De borboletas e casulos

Nem um mês passou desde que vi a última borboleta e já sinto falta delas e de suas promessas de renovação, renascimento. Criaram inúmeras expectativas, esperanças de mudanças que, hoje vivem encasuladas em mim. Não se movem, não se abrem. 

Talvez estejam mesmo sendo gestadas, essas mudanças. Talvez, essa imobilidade, essa desesperança, seja apenas a capa, a casca. Quem sabe lá dentro, bem lá dentro,  transformações alquímicas estejam em curso. Daí a dor, daí o nó na garganta, essa necessidade de se ver muda, de se ter só. Sinto falta do movimento, o leve e ágil bater de asas contra o céu, mas não posso, hoje, como as borboletas, bater asas. Não posso e não quero!  Pelo menos, ainda não!

Quero a viagem interna que acompanha outras vidas a partir de casulos de edredom, aquecidos por meias de lã e pijamas de algodão. Quero o aconchego dos chás, dos livros, das músicas, que embalam e nutrem sonhos de vôos. Não quero vôos! Sinto falta de desejá-los, acostumada que estava a elas, as borboletas, mas não os quero. Ainda, espero! Não os quero ainda! 

Nenhuma lagarta jamais contou do prazer ou do sofrimento do casulo. Mas eu lhes digo  que há um pouco dos dois. E mais prazer haverá, se a lagarta aceitar o recolhimento, aceitar a incerteza. Um dia, haverá vôos de borboletas. Mas somente se a jornada interna for realizada, a intensa metamorfose, longa e profunda, do casulo.

Comments

Popular posts from this blog

The kind of person who lights candles

  I am the kind of person who lights candles. This is now, not then. it is a recently acquired habit, one that has done me well. I light up candles every day. In the beginning of each class I set up an intention, I focus and I light the candle. I ask myself to be the light, to be the container, not the conduit. I am now the kind of person Who walks barefoot on the grass of my backyard and lets herself shower in the improbable rain of Brasilia in May.  The four elements rest now on my desk making my therapist smile when told about them, making her proud of myself and my journey. I am the kind of person that feels the connection with the elements, and nature and the universe, so new. I am again a newborn being. And it is not the first time, I have once died and it’s no secret. This time, however, I did not have to die. I had only to shed the old skin, the one who served me no more. I am still the kind of person who looks in the mirror and who wonders who this new being is. This new self

No espelho

  Olhei hoje para o espelho e me vi mais serena, me enxerguei com mais leveza. Não que esteja de fato mais leve, eu acho. Ou será que estou? Tenho ainda infinitas incertezas e dúvidas aos milhares, mas a imagem que me olhou de volta do espelho, não me olha com tristeza, dor pânico.     A imagem que vejo nesse espelho é de     calma, no olhar certa paz, talvez de se entender humana, imperfeita e aceitar essa condição.     Aqui, deste lado que estou, me observando no espelho, sinto ainda o coração encolher como se uma mão o quisesse esmagar. Encolhe-se para sobreviver e expande-se em seguida. Ao encolher-se, a respiração dá uma pausa e uma bolha de cristal sobe em refluxo, pausando ali no meio da goela. Assim que pode, o coração retorna a seu pulsar, seu ir e vir. Permanecem ali as dúvidas, as exigências, as demandas, mas também os desejos de só ser, irresponsavelmente ser e atender a cada quimera. Porque a vida é curta! A vida é sopro!    E o outro? Os outros? Todos os outros?  É precis

Sobre os artistas - Para Bruno Sandes

  Créditos da imagem: Jacobs School of Music Marketing and Publicity