Skip to main content

Sempre a água

Como nadadora, tenho uma relação com a água que é quase romântica. Da beira da piscina, contemplo a vibração das ondinhas que se formam com o movimento dos outros corpos, ocupados em suas idas e vindas. Pequenas ondas cintilam na superfície, em inúmeros tons de azul e prata, ao toque do sol. 

Mergulho e ouço seus sons que reagem à minha chegada, imperceptíveis zunidos aos ouvidos de seres não aquáticos. Admiro sua explosão em pequenas bolhas quando meu braço a penetra em uma braçada de crawl. Pequenas bolhas que se aninham em volta do corpo, fazendo cócegas, envolvendo, acariciando. Observo os distorcidos reflexos, agora dourados, nos azuis azulejos que ondulam e mantém ritmada companhia. 

Sinto a textura da água, a flexibilidade, a força e o poder de seu volume. Adapta-se aos meus movimentos, recua e retorna, próxima, sempre próxima, uma segunda pele. Aceita meu corpo em seu meio. A água me recebe como um todo. A um só tempo é serena, imensa, poderosa.  

Ouço sua voz dizendo: "Calma! Respira! Prossegue!". Posso chegar à ela, desolada, sem força, sem ar, aos pedaços.  Ela  sempre me recebe, me conforta, me acarinha, me acolhe. Dela retorno inteira. 

Comments

  1. Ela é confidente. Ouve nossos segredos sem que se faça necessário falar. Como resposta aos nossos pensamentos, silencia. E é, então, quando a gente alcança a paz. Alcança o momento mais íntimo e sublime. É quando o tempo para e a vida só diz respeito à água e a nós. Feliz dia da natação =)

    Nati

    ReplyDelete
    Replies
    1. Feliz dia da Natação! Obrigada por ser parceira na água e na vida! :-)

      Delete

Post a Comment

Popular posts from this blog

The kind of person who lights candles

  I am the kind of person who lights candles. This is now, not then. it is a recently acquired habit, one that has done me well. I light up candles every day. In the beginning of each class I set up an intention, I focus and I light the candle. I ask myself to be the light, to be the container, not the conduit. I am now the kind of person Who walks barefoot on the grass of my backyard and lets herself shower in the improbable rain of Brasilia in May.  The four elements rest now on my desk making my therapist smile when told about them, making her proud of myself and my journey. I am the kind of person that feels the connection with the elements, and nature and the universe, so new. I am again a newborn being. And it is not the first time, I have once died and it’s no secret. This time, however, I did not have to die. I had only to shed the old skin, the one who served me no more. I am still the kind of person who looks in the mirror and who wonders who this new being is. This new self

No espelho

  Olhei hoje para o espelho e me vi mais serena, me enxerguei com mais leveza. Não que esteja de fato mais leve, eu acho. Ou será que estou? Tenho ainda infinitas incertezas e dúvidas aos milhares, mas a imagem que me olhou de volta do espelho, não me olha com tristeza, dor pânico.     A imagem que vejo nesse espelho é de     calma, no olhar certa paz, talvez de se entender humana, imperfeita e aceitar essa condição.     Aqui, deste lado que estou, me observando no espelho, sinto ainda o coração encolher como se uma mão o quisesse esmagar. Encolhe-se para sobreviver e expande-se em seguida. Ao encolher-se, a respiração dá uma pausa e uma bolha de cristal sobe em refluxo, pausando ali no meio da goela. Assim que pode, o coração retorna a seu pulsar, seu ir e vir. Permanecem ali as dúvidas, as exigências, as demandas, mas também os desejos de só ser, irresponsavelmente ser e atender a cada quimera. Porque a vida é curta! A vida é sopro!    E o outro? Os outros? Todos os outros?  É precis

Sobre os artistas - Para Bruno Sandes

  Créditos da imagem: Jacobs School of Music Marketing and Publicity