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De vidas retas, gremlins e bolhas de sabão

Invejo as pessoas de vida linear, sem curvas, buracos, retornos. Seguem reto suas vidas, essas pessoas, satisfeitas. Não questionam, não duvidam, não tem fúrias. Sempre satisfeitas, essas pessoas.


Eu, torta, confusa, mutante, tenho ânsias incontáveis, inquietudes e desassossegos sem fim. Insônia, tenho insônia. Preocupa-me o bater de asas da borboleta em Tóquio. Viajo no tempo e no espaço. Tenho sonhos de leveza e transparência. Tenho desejos e medos. 



Infinitos medos moram em mim. Enfrento-os, escondo-os. Multiplicam-se meus medos, como gremlins. Sabe, gremlins? Respiro com dificuldade, um nó na garganta, um grito preso, engasgado. Um caos silencioso vive em mim. Fios entrelaçados de pensamentos, sentimentos, embaraçam-se e nem sei onde começa um e termina outro. 

Crio histórias, então. Invento, exagero, não paro. Vou e volto, vou e volto. Não durmo. Conto estrelas, murmuro canções, não durmo. Sinto, sofro, nada sei de mim. Tudo muito, tudo muito pouco. 

Uma linda, leve, gigantesca bolha de sabão flutua. A qualquer momento pode estourar, a bolha. O sabão fará os olhos arderem, momentaneamente cegos, eu tateando sem direção. Tudo porque sonho, acordada, com bolhas de sabão.


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