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A história de um peixe

Era uma vez um peixe que desejava viver fora do mar. Admirava os pássaros que voavam no céu e sonhava. "É preciso se conformar com o possível", diziam  os outros peixes. Mesmo assim, ele sonhava, com seus grandes olhos de peixe. Passava os dias a observar as interessantes formas daquelas outras criaturas a quem havia sido oferecido o maior prêmio, os céus. 

Um dia, o sol brilhava na água, em mil pedacinhos prateados, e ele,  quase na superfície, desejando o que não tinha, viu uma das criaturas atravessar o seu limite, mergulhando com velocidade e retornando ao azul do céu, com rapidez. "Ah, quão injusto!" Por que podia aquele ser ter tanto? E ele tão pouco? Não, não mais se conformaria, não mais aceitaria tamanha limitação. 

Pensou a noite toda, com seu cérebro de peixe, e na nova manhã, nadou até o pier. Usou de todas as suas forças e saltou.  Por um segundo contemplou o céu sem a distorção do meio aquoso: "Realmente belo!" E debateu-se, arfou, sufocou, naquele excesso de ar. Já sem forças, entendeu que aquilo que mais desejava seria também seu fim. Conformou-se com a espera. "Faltava pouco!" 

Quase exaurido, sentiu-se alçado ao ar. Pelas mãos de um ser enorme, nunca visto, voou em direção ao mar. Quando criticado, dizia:"Mas eu voei!"  Nunca mais nadou até o pier. Lá no fundo, conformou-se, parecia ter se aquietado. Os outros peixes ficaram aliviados. O peixe, porém, eterno sonhador, ainda subia à superfície, ainda admirava o mergulho das aves no mar. Até que um dia uma delas o levou. 

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