Skip to main content

Quente

Não conseguia dormir. A cama lhe parecia quente. As janelas estavam todas abertas, mas não havia vento. Olhar através delas levaria a pensar que o fim do mundo havia chegado. As lâmpadas dos postes iluminavam as ruas como sempre, mas não havia movimento, não havia som. As árvores estavam imóveis, nem uma folha fora do lugar. Ninguém passando de carro, saindo do carro, passeando com um cachorro, nada se movia. 

Levantou-se. A camisola estava ensopada. Pegou outra, mais leve, na gaveta. Vestiu e foi, descalça, à cozinha. Muito gelo e água em um copo grande tomado em grandes goles. Deixou a água escorrer pelos cantos da boca até o peito. Isso ajudou, por alguns minutos.

Sentou no sofá, ligou a TV e zapeou pelos canais. O tecido do sofá grudava no seu corpo. Desligou a TV, levantou e caminhou pelo apartamento mais uma vez. Abriu a torneira de água fria da banheira. Parecia mais morna que o normal. Voltou à cozinha e encheu um balde de gelo. Despejou-o na banheira e mergulhou, as luzes apagadas. Acabou cochilando uns minutos. Saiu da banheira, vestiu a camisola de novo e deitou-se na cama, molhada, onde finalmente dormiu. 

Comments

Popular posts from this blog

The kind of person who lights candles

  I am the kind of person who lights candles. This is now, not then. it is a recently acquired habit, one that has done me well. I light up candles every day. In the beginning of each class I set up an intention, I focus and I light the candle. I ask myself to be the light, to be the container, not the conduit. I am now the kind of person Who walks barefoot on the grass of my backyard and lets herself shower in the improbable rain of Brasilia in May.  The four elements rest now on my desk making my therapist smile when told about them, making her proud of myself and my journey. I am the kind of person that feels the connection with the elements, and nature and the universe, so new. I am again a newborn being. And it is not the first time, I have once died and it’s no secret. This time, however, I did not have to die. I had only to shed the old skin, the one who served me no more. I am still the kind of person who looks in the mirror and who wonders who this new being is. This new self

No espelho

  Olhei hoje para o espelho e me vi mais serena, me enxerguei com mais leveza. Não que esteja de fato mais leve, eu acho. Ou será que estou? Tenho ainda infinitas incertezas e dúvidas aos milhares, mas a imagem que me olhou de volta do espelho, não me olha com tristeza, dor pânico.     A imagem que vejo nesse espelho é de     calma, no olhar certa paz, talvez de se entender humana, imperfeita e aceitar essa condição.     Aqui, deste lado que estou, me observando no espelho, sinto ainda o coração encolher como se uma mão o quisesse esmagar. Encolhe-se para sobreviver e expande-se em seguida. Ao encolher-se, a respiração dá uma pausa e uma bolha de cristal sobe em refluxo, pausando ali no meio da goela. Assim que pode, o coração retorna a seu pulsar, seu ir e vir. Permanecem ali as dúvidas, as exigências, as demandas, mas também os desejos de só ser, irresponsavelmente ser e atender a cada quimera. Porque a vida é curta! A vida é sopro!    E o outro? Os outros? Todos os outros?  É precis

Sobre os artistas - Para Bruno Sandes

  Créditos da imagem: Jacobs School of Music Marketing and Publicity