Skip to main content

Para meu amigo

Querido amigo, espero que saiba que é amado, que sinto sua falta. Espero que não sinta dor e que não tenha medo. Espero que possa perdoar minha ausência e minha incompetência, minha inabilidade de encontrá-lo a tempo. 

Saiba que o perdoei por perder a fita pirata da banda que nem existe mais.  Gostaria que pudéssemos, para sempre, falar dessa fita. Gostaria que continuássemos a partilhar nossos sonhos, a tomar uma cervejinha, a dançar e a contar piadas.

Meu querido amigo, gostaria de ter sabido, de ter estado mais perto. Gostaria de ter lhe apoiado e de que ainda houvesse tempo para ganhar a confiança da sua família, dos seus filhos. Gostaria que me chamassem de tia e que eu os ajudasse a crescer. Gostaria que conhecesse minhas filhas e que risse com elas. Sei que o faria!

Gostaria que tivéssemos nos encontrado novamente e falado sobre a vida, sobre o quanto crescemos e como tudo acabou sendo tão diferente. Gostaria que tivéssemos rido disso e que tivéssemos percebido que estávamos bem, que estava tudo bem.

Mas é tarde, meu amigo. É tarde e eu me sinto impotente. Não posso vê-lo, não posso resgatá-lo, não posso salvá-lo, nem posso fazê-lo rir. Posso apenas esperar, meu querido amigo, que você saiba que é amado. Posso apenas implorar, a todas as forças, que você possa seguir em paz. Adeus, meu amigo!   

Comments

Popular posts from this blog

The kind of person who lights candles

  I am the kind of person who lights candles. This is now, not then. it is a recently acquired habit, one that has done me well. I light up candles every day. In the beginning of each class I set up an intention, I focus and I light the candle. I ask myself to be the light, to be the container, not the conduit. I am now the kind of person Who walks barefoot on the grass of my backyard and lets herself shower in the improbable rain of Brasilia in May.  The four elements rest now on my desk making my therapist smile when told about them, making her proud of myself and my journey. I am the kind of person that feels the connection with the elements, and nature and the universe, so new. I am again a newborn being. And it is not the first time, I have once died and it’s no secret. This time, however, I did not have to die. I had only to shed the old skin, the one who served me no more. I am still the kind of person who looks in the mirror and who wonders who this new being is. This new self

No espelho

  Olhei hoje para o espelho e me vi mais serena, me enxerguei com mais leveza. Não que esteja de fato mais leve, eu acho. Ou será que estou? Tenho ainda infinitas incertezas e dúvidas aos milhares, mas a imagem que me olhou de volta do espelho, não me olha com tristeza, dor pânico.     A imagem que vejo nesse espelho é de     calma, no olhar certa paz, talvez de se entender humana, imperfeita e aceitar essa condição.     Aqui, deste lado que estou, me observando no espelho, sinto ainda o coração encolher como se uma mão o quisesse esmagar. Encolhe-se para sobreviver e expande-se em seguida. Ao encolher-se, a respiração dá uma pausa e uma bolha de cristal sobe em refluxo, pausando ali no meio da goela. Assim que pode, o coração retorna a seu pulsar, seu ir e vir. Permanecem ali as dúvidas, as exigências, as demandas, mas também os desejos de só ser, irresponsavelmente ser e atender a cada quimera. Porque a vida é curta! A vida é sopro!    E o outro? Os outros? Todos os outros?  É precis

Sobre os artistas - Para Bruno Sandes

  Créditos da imagem: Jacobs School of Music Marketing and Publicity